domingo, 26 de outubro de 2014

Escrevo na medida do que sofro

Li algures na minha adolescência que as tristezas são para ser escritas e as alegrias para serem vividas.
Sinto-me aquela criança de 13 anos que sonhava vir a ser feliz e escrevia para exorcizar as suas mágoas. Hoje sei que, dificilmente, voltarei a sorrir com vontade. Hoje sei que os meus sorrisos serão sempre pregados e não sentidos. Hoje, ja não uso papel e caneta. Já ninguém me vê, sozinha no meu canto, a escrever. A procurar a melhor rima, a melhor frase, a palavra mais cara que conheça. Hoje, pego no meu telemóvel e escrevo com a cara encoberta pela burka que o mundo virtual me concede. Porque estar agarrada ao telefone é normal e ninguém pergunta o que faço, crio a minha bolha. Partilho a minha angústia. Sem ter de explicar nada a ninguém. Não embaraça nenhuma alma e todos vivem felizes para sempre.

Morri no dia em que o encontrei

O que mudou desde que este apito me invadiu?
Eu morri nesse dia.
Numa vida plena de ruído, em que abafava os meus pensamentos e sentimentos com música alta e vida nocturna... No dia em que desejei que o silêncio não tivesse esta frequência... No dia em que percebi o quanto estava agora fora da minha vida... Nesse dia eu morri.
Não me reconheço mais.
A música acabou, as noitadas acabaram, os jantares de amigos, ruidosos como eu desapareceram. Tudo mudou e eu deixei de ter as minhas amarras. Amarras que me agarravam à vida. Que me sustentavam de pé a cada tropeço na vida. E porque tropecei tanto e me magoei tanto, sem amarras o corpo e a mentem quebram... De vez... O mundo virou todo ele agreste. Não há fuga ou abrigo possível.
Foi então, algures no tempo, que criei a minha bolha... Longe de tudo o que conheço e com todas as reticências de uma realidade que me angustia.
Ninguém compreende este desconforto que não se vê. Os que tentam compreender buscam a cura que sei não existir. E é duro ter de suportar as suas esperanças em métodos que não resultam. Além da minha frustração tenho de lidar com a deles. No fundo, ninguém quer viver neste meu novo mundo... Nem eu.
Nesse dia eu morri.
E um dia, percebo que a melhor forma de suportar cada dia é fingir que nada disto é real. Arranjar desculpas de fuga que sejam aceitáveis para os outros. Pregar um sorriso na cara para que a minha presença não os incomode nos momentos em que o mudo ressoa tão alto na minha cabeça.
E um dia... A luta por acordar, pregar um sorriso e lutar para adormecer é demasiado dura.
Nada resulta. Tudo é esforço. Não sou feliz. Não faço ninguém feliz.
Tudo passará um dia... Quando este apito desaparecer da minha cabeça. Nesse dia saberei que morri. Não metafórica mas realmente. Nesse dia, poderei ser feliz. Noutra vida. Depois de renascer noutro corpo, noutra vida. Até lá . Sinto-me só e perdida, acompanhada pela minha frequência do silêncio.

domingo, 12 de outubro de 2014

Frequência do Silêncio

Há dois anos que não sorrio. Há dois anos que tento lutar por mim é contra a frustração de todos quando me rodeiam e me querem bem.

O silêncio que sempre tanto prezei tem agora uma frequência aterradora que me atormenta. O silêncio sinto-o, desejo-o mas não o alcanço.

Os médicos chamam-lhe acúfenos, tinitus... Eu não os chamo, apenas desejo que desapareçam... Mas parece que vieram para ficar e sinto-me só.